quinta-feira, 23 de abril de 2009

Cannes 2009

E a organização do Festival de Cannes revelou quais filmes estarão concorrendo à Palma de Ouro do 62º Festival que ocorrerá entre os dias 13 e 24 de maio. Entre eles está o espanhol Pedro Almodóvar com Los Abrazos Rotos, que mais uma vez conta com a presença de sua musa Penélope Cruz; outro que estará novamente concorrendo é o ganhador do prêmio de 1994 com o já clássico Pulp Fiction, o cineasta Quentin Tarantino, que trás Brad Pitt como protagonista de Os Bastardos Inglorios. Além destes o Festival ainda trás AntiChristi, primeiro filme de terror do cineasta Lars Von Trier, responsável por DogVille e ganhador da Palma de Ouro de 2000 por Dançando no Escuro. Outro que volta a concorrer ao prêmio é Ang Lee, com Taking Woodstok, primeira comédia do cineasta e que trás mais uma vez às telas, como o próprio nome sugere, o Festival de Woodstook. Quem estará concorrendo também com o filme Bak-Jwi é o cineasta coreano Chan-Wook Park, que ganhou o prêmio especial do Júri em Cannes com o angustiante OldBoy.
A França também estará sendo representada pelo filme Enter the Void, de Gaspar Noe, cujo último filme foi o nauseante Irreversível; outro cineasta que já foi ganhador da Palma de Ouro com o filme Ventos de Liberdade e estará concorrendo novamente é o britânico Ken Loach, desta vez com o filme Looking for Eric. Quem também estará concorrendo é o filme Bright Star da cineasta neozelandesa Jane Campion, ganhadora da Palma de Ouro em 1993 pelo filme O Piano.
Além dos filmes que estão concorrendo ao prêmio também serão apresentados no Festival a nova animação da Disney Up - Altas Aventuras, além de Agora, de Alejandro Amenábar, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004 por Mar Adentro. Outro que será exibido especialmente no festival será L'epine Dans Le Coeur, do cineasta francês Michel Gondry. Ainda terá destaque o filme The Imaginarium Of Doctor Parnassus, de Jerry Gilliam, e que conta com a participação não finalizada do ator Heath Ledger que morreu antes que as filmagens do filme tivessem acabado. E por fim, para quem espera a presença brasileira no Festival será exibindo, embora não esteja concorrendo, o filme À Deriva, novo trabalho do diretor de O Cheiro do Ralo, Heitor Dhalia.

Segue abaixo a lista completa dos filmes que estarão concorrendo:

Pedro ALMODÓVAR - LOS ABRAZOS ROTOS (Broken Embraces)
Andrea ARNOLD - FISH TANK
Jacques AUDIARD - UN PROPHÈTE
Marco BELLOCCHIO - VINCERE
Jane CAMPION - BRIGHT STAR
Isabel COIXET - MAP OF THE SOUNDS OF TOKYO
Xavier GIANNOLI - A L’ORIGINE
Michael HANEKE - DAS WEISSE BAND (The White Ribbon)
Ang LEE - TAKING WOODSTOCK
Ken LOACH - LOOKING FOR ERIC
LOU Ye - CHUN FENG CHEN ZUI DE YE WAN (Spring Fever)
Brillante MENDOZA - KINATAY
Gaspar NOE - ENTER THE VOID
PARK Chan-Wook - BAK-JWI - (Thirst)
Alain RESNAIS - LES HERBES FOLLES
Elia SULEIMAN - THE TIME THAT REMAINS
Quentin TARANTINO - INGLOURIOUS BASTERDS
Johnnie TO - VENGEANCE
TSAI Ming-liang - VISAGE (face)
Lars VON TRIER - ANTICHRIST

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sem medo de maldições


No primeiro post deste humilde blog (hein?!) falamos sobre a dificuldade em começar algo. Estrear, partir do zero... No entanto, se você consegue superar tal barreira com sucesso, baixar a guarda é um risco. Tão difícil quanto um começo bem-sucedido é a manutenção dessa conquista. De nada adianta rolar uma super conexão e boa impressão num primeiro encontro, se você estragar tudo com perguntas e hábitos desnecessários no segundo (graças a Deus, não sou desses. rs).

No mundo do entretenimento funciona exatamente igual. Quando uma série de TV estoura em sua primeira temporada rola uma grande expectativa sobre como será a segunda. Uma expectativa cruel, que muitas vezes leva grandes séries ao limbo ou então as arrasta por mais algumas temporadas, dependendo da paciência dos diretores das TVs (caso da “morta-viva” Heroes e da falecida The O.C.). Mas nenhuma maldição no mundo pop se compara ao lançamento de um segundo CD. E uma das últimas estrelas da música a passar por essa provação foi a britânica Lily Allen com o seu It’s Not Me, It’s You.

Lançado em fevereiro deste ano, o segundo álbum da carreira de Lily Allen parecia fadado a sofrer da “síndrome do segundo”. No primeiro trimestre do ano de 2008, Lily deu algumas entrevistas declarando que seu CD estava praticamente pronto. Entretanto, a cantora voltou atrás e disse que queria seguir “novos caminhos”, experimentar novos sons e ritmos, o que atrasou bastante o lançamento do álbum, além de provocar o rompimento com o produtor-queridinho-sensação Mark Ronson. Com isso a expectativa aumentou. Será que It’s Not Me, It’s You conseguiria manter Lily nas paradas e superaria o arrebatador Allright, Still?

Minha humilde (oi?!) resposta é sim. A tática de divulgar os demos do novo álbum no seu MySpace seguiu o mesmo caminho do primeiro CD, assim como suas famosas letras autobiográficas. Entretanto, parece que se encerram aí as semelhanças. Em seu segundo CD vemos claramente uma Lily mais madura e executando um álbum mais eletrônico e dançante que o anterior.

Ainda que mantenha a sua ironia on fire contra seus ex-namorados, vale destaque para a divertida e ácida Not Fair [When we go up to bed you're just no good / Its such a shame / I look into your eyes / I want to get to know you / And then you make this noise and its apparent it's all over], ela se volta a críticas mais contundentes. Seus alvos preferidos: o consumismo exagerado e as “celebridades de plástico” no ótimo single The Fear e a sociedade descartando as pessoas cada vez mais cedo na faixa 22 [It's sad but it's true how society says / her life is already over].

Its Not Me, It’s You ainda tem um longo caminho pela frente, e dizer que ele terá o mesmo êxito comercial que seu antecessor parece precipitado, apesar de termos bons indícios que sim: o álbum estreou em primeiro lugar no Reino Unido e na Austrália, e em quinto nos Estados Unidos. Contudo, há que se celebrar a maturidade musical que a cantora e compositora de 23 anos parece ter atingido. Em cada faixa do novo álbum, Lily nos mostra que deixou para trás “aquela adolescente que estava desesperadamente atrás de atenção”, conforme ela mesma define as músicas de seu primeiro CD.

domingo, 19 de abril de 2009

Che


Para quem não conseguiu assitir a primeira parte do filme "Che" de Steven Soderbergh, mesmo diretor de Traffic e Erin Brockovich, no Festival do Rio de 2008, a boa notícia é que finalmente o filme foi lançado nos cinemas do Rio de Janeiro no final de Março.

Neste filme, Soderbergh divide os aconteciemntos da vida de Che em duas partes. A primeira aborda principalmente a atuação do guerriheiro na Revolução Cubana, enquanto a segunda, com previsão de estréia no Brasil apenas para agosto deste ano, retrata a atuação de Che na tentativa de promover a revolução na Bolívia, algo que diferente da experiência cubana resulta na sua execução.

Contando com a atuação de Benicio Del Toro, que ganhou o premio de melhor ator em Cannes por sua atuação como Ernesto Che Guevara, e do ator brasileiro Rodrigo Santoro na pele de Raúl, irmão de Fidel Castro, "Che" como afirma Soderbergh não tem a pretenção de expor um revolucionário santificado e muito menos um assassino impiedoso, quebrando assim todos os mitos que definem a sua imagem. A intenção de Soderbergh é mostrar uma versão cinematográfica mais real de Che, e talvez por isso o filme começe com a cena de um jantar onde Fidel e Che iniciam suas idéias sobre a revolução, partindo para então toda a saga de Che e seu recrutamento de guerrilheiros e uma série de conflitos que no final resultam no sucesso da revolução. Porém no meio desse desenrolar o filme passa por momentos que podem ser bastante cansativos e até mesmo confusos, onde a história varia constantemente entre os anos de 1956 e 1959, partindo para momentos de entrevistas de Che e para o seu discurso na ONU em 1964. E termina assim, meio que do nada, meio que querendo dizer para que o telespectador brasileiro espere até agosto, quando a segunda parte finalmente chega ao brasil.



quinta-feira, 16 de abril de 2009

Before Sunrise


Você já parou pra pensar como é complicado começar alguma coisa?! Assim, digo começar do zero mesmo. Um namoro, um trabalho, um texto, uma barca de japonês.. enfim, tudo que envolve o verbo “escolher” é um problema. Só que tal drama pode aumentar ainda mais quando você se vê diante de diversas opções. Opções + escolha = inércia. Porém, tentando sair do movimento inicial igual a zero [só aprendi isso em Física] resolvi encarar o desafio e falar de um filme que tem tudo a ver com o próprio ato de começar algo. Afinal, nossas vidas geralmente começam antes do amanhecer.

Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) narra o encontro ocasional de dois jovens em um trem na Europa. A bela Celine (Julie Delpy) e o charmoso Jesse (Ethan Hawke) trocam seus primeiros olhares após ela trocar de poltrona no trem, devido a uma bizarra discussão entre um casal, em alemão, que atrapalha sua leitura. Um casal falando alemão, uma francesa e um americano. Globalização, babe. Encantada por Jesse, Celine decide aceitar seu convite e desce do trem pra viver aquele que talvez seja o dia de sua vida, numa Viena fria, crua, mas deveras romântica. Você pode pensar: ok, agora se seguirá uma sequencia de clichês sobre as diferenças culturais entre americanos e franceses. Certo?! Não, errado. O que acontece em Before Sunrise é que desde os roteiristas aos protagonistas onipresentes, e passando pelo diretor Richard Linklater, há um enfoque na utilização muito forte do comum, do corriqueiro, para justamente subverte-lo.A arriscada escolha por uma narrativa linear, que poderia tornar o filme arrastado e entediante, é justamente o que o dá fôlego. Se optasse por recursos narrativos como flash-backs ou flash-fowards, por exemplo, o diretor iria de encontro a toda a simplicidade da película. Aliás, talvez este seja seu grande trunfo: ser simples, mas passar longe do simplório. Apesar de uma premissa pitoresca - convenhamos que dois desconhecidos passeando por uma cidade estranha não é algo que aconteça todo dia - a forma como o filme se dá, abusando do lirismo e dos diálogos [ora densos ora banais] provoca um bem sucedido recurso de imersão profunda no filme. Isso ocorre também em virtude da direção que Linklater leva durante todo o filme: suave, leve, sem firulas, efeitos pirotécnicos ou closes desnecessários, nos transportando com tudo pra dentro da noite de Viena.

Contudo, Linklater ganha todos os créditos sozinho. Muito do êxito do filme é atingido pelo ótimo desempenho de Ethan e Julie, que aparecem em praticamente todas as sequências do filme. A liberdade dada aos atores para improvisar nos diálogos e nos gestos ajuda bastante a dar um clima mais intimista e convidativo ao filme. Além disso, a conexão que Jesse e Celine sentem está ali, presente em cada troca de olhares entre os jovens atores, como quando eles estão na cabine de uma loja de música onde os dois se olham e fogem do olhar um do outro. Uma sequência absurdamente eloquente, sem a presença de qualquer palavra.

É por essa fuga de antagonismos fáceis e de soluções simplórias ou carnavalescas em excesso, que Before Sunrise se destaca como um filme de estilo incomum, simples, arriscado e preciso. Se um dia encontraremos o alguém que nos complemente, como dois afluentes do mesmo rio [cena do poema, uma das minhas favoritas], que passaremos horas infinitas conversando - seja teorizando ou falando bobagem -, isso eu não sei. Entretanto, aquele cara com alma de um garoto de 13 anos e aquela grande mulher, antes desolada como a sua avó, que se encontraram antes de um sunrise se encontrarão de novo. É só esperar pelo sunset.